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Momentum Metaxis Entrevista ao Arqui-druida /|\ Adgnatios no Centro Druídico da Lusitânia - Desvelan


ARQUI-DRUIDA DA LUSITÂNIA

Estimado Arqui-Druida /|\ Adgnatios, em nome da Metaxis, rubrica de reportagem da A Revista da Tradição Lusitana, agradecemos-lhe desde já a sua disponibilidade para a realização desta entrevista, que será publicada no próximo número da nossa periódica que será dedicada ao tema «A Supervivência do Sagrado». É para nós um privilégio a possibilidade que nos dá de lhe podermos colocar algumas questões no contexto das recentes atividades da Assembleia da Tradição Druídica Lusitana, sobretudo no que se refere à construção da sua Sede Espiritual, que se encontra em fase final de construção no Centro Druídico da Lusitânia e cujo nome escolhido foi «Trebaruna», cremos que em honra da homónima Deusa Lusitana.


METAXIS - Estimado Arqui-Druida, a razão pela qual lhe pedimos para realizar esta entrevista nesta data prende-se com o facto de perfazer precisamente um ano desde o início da construção de «Trebaruna». O que é ou o que significa «Trebaruna» para a ATDL?


- Sejam ambas muito bem-vindas ao Centro Druídico da Lusitânia. É com imensa alegria que recebo a Metaxis neste lugar mítico da nossa Tradição para mais um momentum delicioso e saudável de conversa sobre ela. A questão que me colocam, só por si, implicaria uma resposta cuja amplitude seria suficiente para abarcar ou ultrapassar os limites protocolares de uma entrevista (risos).

A nossa Tradição é a expressão Lusitana da Tradição Primordial, ou seja, é herdeira do(s) primeiro(s) foco de sentido espiritual animista de que há memória narrativa e cuja realidade histórico-cultural a situa bem no centro da matriz que denominamos como Atlântica Céltica. Mas quer isto dizer o quê? - Bem, em primeiro lugar, quer dizer que, no sentido em que se encontra perfeitamente alinhada com o supracito quadro matricial, a Tradição Lusitana acolheu no seu ventre um conjunto dinâmico de processos de cariz espiritual, que se articulam entre si, e por via dos quais ela percorre os tempos de forma atávica. Estes processos ou o conjunto dinâmico deles é comum a todas as diferentes expressões desta matriz. Para melhor entendimento, passe a contradição do que se segue, é como se fosse um qualquer tipo de «genoma espiritual», isto é, algo que possibilita a emergência da diversidade a partir de um substrato comum.

Na Irlanda, por exemplo, o que em parte retrata os processos em causa, individual ou coletivamente entendidos, é a simbólica dos 3 Caldeirões: o do entusiasmo ou acalento; o da vocação ou, como usualmente designo, o do fogo artista, que realça a inclinação ou singularidade de cada um; e o da Sageza. Na Tradição Lusitana a motricidade é similar, mas a sua simbólica é um pouco diferente, algo que poderei explicar em outra ocasião.

O que nos interessa extrair desta aproximação, é que a Tradição Lusitana é uma Tradição de Lumes, de Lareira, de Lar, isto é, coloca primeiro o seu enfoque no coletivo, no sentido de criar um conjunto de condições mais adequadas possíveis a um desenvolvimento integrado das singularidades constituintes da Egrégora, isto é, proporcionando-lhes uma narrativa de sentido, um esteio, um abrigo. É isso que significa «Trebaruna» para a ATDL, a Casa dos Mistérios, o Lar, o Abrigo e um Centro Narrativo disposto aos caminhantes para que a sua evolução espiritual seja concertada e emerja no seio da comunidade. E sim, assumiu o nome de «Trebaruna», uma vez que a Deusa Lusitana tutelar afecta a estas realidades participadas é precisamente Trebaruna, a Senhora Dos Lumes Lusitanos (aqui no sentido de Mistérios). Não se trata da Casa de Trebaruna, mas, de um modo simbólico, Trebaruna que se volve em casa e dela se assenhora, para nos ensinar a desvelar os mistérios do lar e desenvolvermos estruturas para caminhar na roda do destino.

Na Tradição Lusitana, é indissociável a realidade coletiva da realidade individual. Nesse sentido, Trebaruna, que juntamente com Ataégina (Ventre ou Casa das Inscrições Espirituais ou Luminosas) e D´Ana (sobre cuja simbologia falarei noutra altura) formam o divino eixo tríptico tutelar da fase de Giamos na nossa Tradição, simboliza também o lugar onde se poderão desenvolver não só importantes dinâmicas de afetividade entre os caminhantes, como de vocação, entendidas por nós como aspetos fundamentais para um desenvolvimento sustentado da ATDL.


METAXIS - Soubemos que não existiu nenhum registo arquitetónico pré-definido para a construção de «Trebaruna». Todo o projeto nasceu de uma ideia e materializou-se diretamente em obra, o que terá implicado uma enorme criatividade e engenho. Considera que terá sido a inspiração proporcionada pelas Deidades da Lvsitânea um dos fatores fundamentais que permitiram a execução de cada uma das etapas de construção? Que balanço faz deste ano, a nível da execução dos trabalhos?


- Não nos podemos esquecer que a ideia da qual o projeto resultou, em primeira análise, nasceu de um sentimento que, este sim, foi a condição necessária para que avançássemos para a sua materialização. Uma vez que foi esse o ‘imperativo’, sentimos a necessidade de, ao longo das diversas fases de construção, deixar sempre e de algum modo uma abertura a que uma pronunciação espiritual pudesse advir e direcionar-nos, o que levou a que optássemos pela não predefinição da construção. Foi um projeto que, por ser de cariz espiritual, se inscreveu na alma e se mediu com o coração. Ainda assim, estabelecemos alguns critérios prévios, que, ainda que não dizendo diretamente respeito à construção, lhe podiam emprestar alguns condicionamentos, nomeadamente: o local de implantação, que deveria ser o mais resguardado possível; estar a uma latitude superior à de Mātīr Nemet, que axializava o Sul, representativo da origem da Tradição; a sua entrada estar virada a Norte, representativo de ‘caminho’, mas com um miradouro para Sul; e que abraçasse e fosse abraçada pelo entorno, isto é, que fosse digna… não diminuindo dignidades.


METAXIS - Sabemos que foi levantado mais um Cromeleque de menores dimensões, para além de Mātīr Nemet. Pode levantar um pouco a ponta do véu quanto ao seu nome e desígnios?


- Sim, claro, fá-lo-ei com todo o gosto. Vamos ser se consigo articular a minha resposta de uma forma suficientemente clara. Neste caso concreto, só poderíamos afirmar que estaríamos perante um Cromeleque de menores dimensões se existisse algo idêntico com proporções comparativamente mais acentuadas, o que não é este o caso. Julgo tratar-se de um Cromeleque único, pelo menos tendo em conta o que conheço e que me foi dado a conhecer. Faço este sublinhado, porque a sua construção não obedeceu a qualquer tipo de rácios, no que respeita às medidas, mas sim aos três ‘passos’ fundamentais no caminho de Imram, bem patentes nesta Tríade Lusitana que se segue:


“Desperte...

Acolha livremente a Luz do Espírito Universal e assuma o compromisso de a servir;

Defenda corajosamente a prevalência da Verdade;

Mantenha-se insubornável perante os bens materiais e indomado pelos poderes terrenos;

E tornar-se-á um Peregrino do Amor…uma voz feita de Luz e um Coração cheio de Natureza.”


Antes de continuar a desenvolver a minha exposição, lanço-vos neste apartado o desafio: o de lerem na primeira pessoa esta Tríade no interior do Cromeleque em questão, dando um passo após a leitura de cada momento, partindo do Menir Central na direção do Menir que marca o momento da Roda do Ano em que se encontram à altura da leitura.

Entretanto, já entreabri um pouco da sua simbologia, dos seus desígnios e até do seu nome: trata-se de um Cromeleque representativo da Roda do Ano, cujo nome varia consoante a fase em que nos encontramos e, uma vez que se situa a Norte de Mātīr Nemet e de Trebaruna, a Casa, traduz também o transcurso da Tradição Primordial, por via da reconexão ao Sentido Espiritual a que aponta, comum em relação a distintas representações simbólicas nos tempos das suas fases.

Mais desenvolvimentos sobre esta questão poderão ser encontrados no excelente artigo do Dragano Ersus Belitanus, que, julgo eu, pelas informações veiculadas, será também publicado no próximo número da Revista da Tradição Lusitana.


METAXIS - Será mais correto falar de «criação» ou de «recriação» relativamente a estas estruturas?


- Tenho uma certa dificuldade em acreditar que seja possível reproduzir integralmente o que quer que seja, isto é, sem mais nem menos. E essa dificuldade aumenta substancialmente quando o assunto aponta à residência do Espírito, na qual as realidades se apresentam verdadeiramente como absolutas, irreproduzíveis, unas em si mesmas, completas e inconfundíveis com outro ‘algo’ que não elas mesmas, contendo até em si o absoluto do diferente. Talvez uma Tradição cuja base fosse o folclore afirmasse que sim, que seria possível. Mas, na minha opinião, não é assim que sucede. Chamemos-lhes, então, não criações ou recriações, mas emanações de Sentido Espiritual que acolhemos em nós e, sob a tutela da Tradição Lusitana, decidimos livre e responsavelmente realizar. Mas uma vez que emergem por via de um vínculo ou de uma ‘amarração’ a um sentido profundo de dignidade espiritual, poderemos referirmo-nos a elas também como concriações, isto é, um conjunto de obras ou produções que orbitam em torno do eixo que conecta a vida segundo a matéria à vida segundo o espírito e se inscrevem no Sentido do Fluxo do Espírito Universal.


METAXIS - Como foi possível a construção destas estruturas tão complexas com meios aparentemente tão simples no Centro Druídico da Lusitânia?


- Antes de mais, resultou de uma tremenda força de vontade, capacidade de abnegação e de um profundo sentido de responsabilidade dos membros da ATDL que assumiram como seu o compromisso de realização desta ambiciosa tarefa. Sabíamos à partida que não seria coisa fácil ou ligeira, do mesmo modo que sabíamos que se tratava, em diversos aspetos, de um momento fundamental para o futuro da ATDL.

No sentido em que a nossa matriz não preconiza nem subscreve um caminho de espiritualidade servido em «bandeja de prata», isto é, não se trata de uma mera aparência ou cosmética que não implica rigorosamente qualquer compromisso, esforço ou dedicação, mas implica outrossim um itinerário de construção com vista a uma evolução e ao alcance de um sentido fundamental ou de uma realização, este empreendimento poderia também servir para pesar o nível real de amarração dos membros da ATDL. Por via da sua atitude e inação, alguns membros mostraram claros indicadores de que, contrariamente ao que afirmavam, não comungavam dos princípios fundadores, orientadores e valores da ATDL, pelo que se procedeu à necessária filtragem.

A evidente escassez de recursos materiais seria, logo à partida, uma justificação natural para não avançarmos para um empreendimento tão musculado, mas, não obstante os imensos obstáculos circunstanciais, foi a profunda convicção de que seria possível realizar este projeto, bem como o redobrar do compromisso de todos aqueles e aquelas, face à falta de compromisso de outros, que nos possibilitou a chegada a bom porto…e ainda mais unidos. A todos eles e elas, aqueles e aquelas que se revelaram verdadeiramente amarrados à Tradição, expresso, na qualidade de Arqui-Druida da nossa ATDL, o meu mais profundo reconhecimento pelo seu exemplo de existência.

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