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Caminhar na Tradição Céltica Lusitana

Se chegou até aqui e se encontra a ler estas linhas, a não ser que tenha sido obra do acaso, o que não deixa de ser também um sinal importante, é porque é uma pessoa contemplativa, inteligente, razoável, responsável e apaixonada, atributos fundamentais para quem sente o desejo de entrar no Caminho virtuoso da prática da Sabedoria Céltica Lusitana Hiperbórica e aprender a Filosofia da nossa Tradição: «A Metafísica da Luz do Espírito Universal». Mas leia um pouco mais acerca dos fundamentos da Sabedoria Céltica Lusitana, pois talvez assim nos fique a conhecer um pouco melhor. 

Fundamentos da Tradição Céltica Lusitana

Da Fonte Primeva ou da Luz Incriada, reflectida e inscrita no tecido da criação, emergiu uma prática esclarecida de Espiritualidade que ecoa por toda a eternidade, designada como Tradição Primordial. Uma elevada compreensão desta reflexão originária requer que o nosso labor mental atinja a serenidade, simplicidade, rigor, autocontrole e pureza de pensamento. Não estando em causa uma ortodoxia, o caminho na Tradição Céltica Lusitana deve ser esclarecido e convicto, e não devemos pretender, por via deste trânsito, o alcance de qualquer objectivo que não o de satisfazer a Suprema Soberania da Vida Espiritual.

Por via de uma acção Livre, Verdadeira, Amorosa e Responsável, poderemos caminhar de forma virtuosa neste Caminho da Tradição Primordial. Caminhar na Tradição configura, primeiramente, de forma particular e exemplar, uma demanda de si mesmo a partir de uma situação-limite de assumpção de carência radical, na qual a figura simbólica de «O Caminho» se apresenta como via aberta para a sua superação. Por via da Palavra-Portadora de Ser, descritiva, emocional e encantatória, na multiplicidade dos seus recursos discursivos e retóricos, diz o Filósofo Sacerdote do sagrado acerca da Tradição Atlântica. Este «dizer» reveste-se de um carácter único e originário, não apenas na perfeição das suas formas multímodas, na riqueza das referências culturais que encerra, mas também na coragem das suas críticas e propostas.

Para a maior parte dos caminhantes da Tradição, esta situação de superação da carência radical transmuta-se num trânsito contínuo entre as suas dimensões constitutivas: o mundo do Espírito e o Espírito do Mundo, num caminhar que se apresenta direccionado a uma finalidade: a Ascensão ao Mundo da Luz Branca. A aceitação da sua natural carência radical levará os futuros caminhantes à decisão entre a finitude possível de um beco sem saída ou a demanda por uma Espiritualidade Viva, Pulsante e Plena. Foi por via desta actualização dramática da condição humana, pois, que o trânsito da Tradição Céltica Lusitana, aqui, frente às águas do Atlântico, recebeu os seus primeiros caminhantes: os Atlantes Hiperbóricos.

É precisamente através deste pórtico inaugurado pela temática supracita que iniciamos a nossa peregrinação por uma Tradição tão rica e inesgotável de interpretações. Logo aqui assinalamos a presença Divina de Nwyre, que nos acalenta, fecunda e protege, razão pela qual lhe oferendamos este texto, numa anagógica dedicatória de alegórica ressonância ancestral, mas, também de algum modo homóloga, na emanação do seu calor benfazejo, à presença dos primeiros Sábios da Tradição Universal do Amor: "Tradição antiga como o Mar e nova como as ondas desse mesmo Mar."

Se nós, Célticos Lusitanos, somos «ondas» desse mar, aqui também não é indiferente o lugar que o coração toma sobre si, como órgão empático por excelência. Ele assume-se aqui não só como o receptáculo da bondade de Nwyre que é, a um mesmo tempo, inspiradora deste texto que vos apresentamos, como, de igual modo, o Caminho que melhor guiará e preencherá o coração dos caminhantes pela peregrinação abissal e, por vezes, amarga do oceano deserto do mundo, feito de dunas labirínticas, de desesperos, de lamentações, mas também de convicção, conforto e esperança. Esta metáfora do coração constitui-se assim como o centro, o ponto de partida da jornada que a “Nação Atlante Lusitana” é exortada a trilhar, pois ele é lugar de movimento oscilante, de sístole e diástole, de purificação e de escolha interior, de sentimentos e de sabedoria. Senda que só pode iniciar-se pela decisão interior (metanóia) de demanda pela liberdade e de busca pelo Mundo da Luz Branca – senda cujos ásperos grãos de areia consigo carregam os caminhantes, ainda, e onde quer que se encontrem.

Assim, e em jeito de dedicatória, como vimos este texto é, então, ofertado a Nwyre, como Coração deste Corpo-Tradição a que este labor almeja alcançar. E esta obra reconstitui, a partir desse vaso vital, desse receptáculo aparentemente esvaziado, reconstrói e restitui a identidade ao Povo Atlante Lusitano, que se havia perdido e fundido pelos imensos desertos do mundo.

A presença de elementos estruturais deste humilde texto poderá talvez atestar-se de forma acaso evidente pela reiteração das relações basilares onde se aprofundam e avançam explicações para as motricidades mais complexas da Sabedoria Primordial, noções fundamentais para a compreensão das dimensões litúrgica, cerimonial e terapêutica que abundam por toda a obra da nossa Tradição.

A escolha do método oral, pelos Filósofos da Tradição, radica no facto de este funcionar como meio promotor de identidade espiritual entre caminhantes, servindo a oralidade como um centro pedagógico irradiante, unificador e unitário da Tradição. Esta opção, que é também um topos de pertença cultural e um ponto motriz de partida, funciona como um “seio materno” por via do qual os caminhantes se nutrem de sentido e que lhes proporcionará não só uma anamnese refundadora da Consciência Espiritual Lusitana, mas um reposicionamento na ordem temporal do horizonte da mesma Tradição, retomando a peregrinação em direcção a um lugar que não é uma mera utopia, mas outrossim um topos bem definido, o Mundo da Luz Branca, tido aqui como referência última na procura de um Ethos Espiritual ou de uma busca de um si mesmo (unidade primeva), de um lugar – uma habitação ou casa do ser - para o Povo Atlante Lusitano.

A linha condutora do reconto desta narrativa ancestral que aqui vos apresentamos, estimado leitor, pela qual os Atlantes Lusitanos encontrarão o seu lugar, encontra-se e joga-se numa tensão inicial genésica: a criação realizada por Nwyre por via da voluntária adesão primeira ao ato de Amor Puro do Incriado e a recorrência às formas que a relação entre Criatriz e Criatura assume.

E de que forma se nomeia aqui o Incriado? Esse Outro radical, transcendente e único que emanou possibilidade de criação em Nwyre, por um ato incondicional de amor, espelhando-se como num espelho de água? - Exprimindo-O pela interjeição essencial OIW. É neste contexto em que se inscreve, também, a situação dos Atlantes Lusitanos, pois as suas palavras, tribulações, consolações e obras tomam lugar como instrumentos de manifestação da vontade livre passibilitadas por Nwyre e possibilitada por OIW: escutando-O ou ignorando-O; dizendo-O ou calando-O.

Os Filósofos-Sacerdotes da Tradição medeiam o modo como a voz de OIW ecoou, ecoa, manifestou e manifesta ao longo da história (vida com sentido do homem pelos tempos), expressão de um distanciamento que, é certo, por uns tempos, revelou surdez ou quebra de aliança, mas nunca de promessa. É responsabilidade dos Atlantes Lusitanos de hoje renovar votos de aliança e manter a promessa da procura de Ascensão de um povo. Já não se trata, pois, aqui de simples teofania, mas de teleologia e de história da Tradição Céltica Lusitana sob forma humana de atribuição de significado a uma voz teogenésica que se escuta como um silêncio primevo, como se se tratasse de um código secreto do qual um dia se perdeu a chave. É por esta razão que a Tradição Céltica Lusitana reclama dos caminhantes a condição de humildade.

A Natureza é o verdadeiro livro da Tradição, cenário idílico e acolhedor criado por Nwyre onde discursam e convergem os protagonistas animados. Como se rememorar só aqui e assim fosse possível. No refúgio do jardim da natureza, tudo se passa como se nos sentíssemos carentes de regresso a uma Fonte Original onde, não por acaso, e na esteira de Virgílio, as nossas próprias lágrimas e as águas de um rio próximo assumem um carácter catártico, purificador.

O choro amargo da carência, expressão da alma errante e atribulada, e as lágrimas purificadoras do sentimento situarão os verdadeiros Atlantes Lusitanos no início do trilho que, seguindo-o, os levará à morada onde poderão aportar finalmente a sua alma agora atormentada: Gwynfyd. Esta tensão interna leva o caminhante a começar o seu processo de transmutação ou regresso ao ser de si mesmo. Assim se inicia a predisposição e o processo da escuta das Palavras da Tradição, Ofício explanatório de amor e esperança na Bem-Aventurança. 

A morte, bem como a dor, a tortura, o sofrimento, bem como o erro, são apenas passagens ou veredas ásperas que também se apresentam como uma oportunidade de experiência, aprendizagem e redenção ou resgate. Possibilidade, também, para a afinação da atenção, escuta, introvisão ou conhecimento ou vivência plena da (re)visitação divina. A questão fundamental será, então, «não perder a alma», isto é, não se deixar aprisionar num dos pólos da dialéctica metáxica: morte (por sofrimento, infidelidade ou vazio ou ausência do divino) versus vida (por fidelidade ou plenitude ou abertura à presença do divino).

Mesmo nos abismos de dor, não perder a esperança. Há um mar amargo e um deserto abrasador de lume e padecimentos cuja travessia se tem de empreender, durante a qual se terá de reconhecer os limites da dor insuportável e do grito indizível da carência. O essencial será então, neste contexto, nunca deixar de procurar o Caminho, o trilho ou o socorro divino de Nwyre, por via da busca de uma Voz que ecoa cá dentro, uma voz que é a Voz do vir a ser, a voz mesma do sujeito mesmo que busca a Voz e que também é objecto da sua própria demanda.

Fazer cá a nossa casa lá, sempre edificando e reedificando clareiras, mesmo que ciclicamente destruídas, corresponde, deste modo, à homologação final entre a nossa morada Terrestre e a do Mundo da Luz Branca, objectivos últimos de uma peregrinação material e Espiritual interiores e exteriores da nação Atlante Lusitana. Para tal, é sempre necessário ter presente a consciência do erro e a evocação saudosa dos nossos Ancestrais. Simultaneamente se deve desvalorizar os bens terrestres, entendê-los como uma vã glória que em tudo se assemelha a um desfilar de sonhos numa realidade que tem nada mais que uma mera consistência onírica. A Razão Divina prevalece, mesmo perante supostas desgraças. As perdas sucessivas podem-se metamorfosear pela consciência dos nossos erros e não serem entendidas como fatalismos, mas como a afirmação de uma liberdade de escolha. A presentificação e confissão dos erros, racional e finalmente revividas e entendidas, poderão torná-los, por fim, aceites. Este passo será o primeiro de uma interiorização plena do providencialismo histórico da Tradição Céltica Lusitana, por via da desvelação, com toda a inteligibilidade, do sentido providencial e único do povo Atlante Lusitano – purificado pela dor e pelas lágrimas –, personificado pela virtude e preenchido pelas orações, súplicas, preces e cânticos de louvor às suas Deusas e Deuses. Todos os acontecimentos passados se presentificam no Aedo ou Bardo: ele interioriza a história da nossa Tradição e, mais do que a fazer sua, torna-se nela, dizendo-a, cantando-a. Pode, assim, rememorá-la e dar dela o seu testemunho presencial, vivo.

O método da «Alquimia da Alma», usado pela Filosofia da Tradição Primordial, constitui-se em três níveis: dirige-se à memória para o seu entendimento, à inteligência para a sua compreensão e à imaginação para a sua vivência. Memória ou anamnese, inteligência ou racionalidade e intuição, imaginação ou emoção são faculdades, chamemos-lhes assim, que se devem entrecruzar no decurso de todos os diálogos dos Sábios da Tradição, entrelaçando-se, intensificando-se, até se materializar em obra. Deste modo, vive-se e revive-se a História da Tradição Céltica Lusitana e nela essa mesma história se transcende e transmuta na fruição de um eterno momento da ordem do inefável. Manifestações e vivências sensíveis, expressões, pois, de uma sensibilidade e de uma sensualidade de metamorfose, dada essencialmente pelo sentido de uma visão «Alquímica da Alma», dita na primeira pessoa do singular, numa fruição onde o material e espiritual se volvem finalmente em unidade, tal é o sentido de uma ressuscitação colectiva dos antigos Atlantes Lusitanos por via dos  seus descendentes actuais que hoje se vestem do seu paramento.

«Vestir do seu paramento», metáfora que alude às vestes e ao Ethos, requer, antes de mais, um despojar, despir ou mesmo um arrancar da veste suja e expor a nudez humilde, expiando a tormenta que um dia se recompensará pelas vestes verdadeiras concedidas: em suma Bem-Aventurança jurada em amor.

Numa intensa e virgiliana metáfora vegetal, a nação Atlante Lusitana reflorescerá como um lírio, as suas raízes serão transmutadas, isto é, as suas origens, os seus fundamentos serão replantados, o seu passado, presente e futuro mesclados num mesmo momento e já não renascidos, mas apenas e sempre nascidos. Terminamos parafraseando Pinharanda Gomes, os Lusitanos sabiam bem que existiam muitas estrelas no céu, a quem poderiam pedir orientação, mas também sabiam que Sol havia, e há, apenas um. Bem-Hajam. 

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